Fonatório. A aritenoidectomia subtotal é técnica eficaz para avaliação respiratória e fonatória.
Quase todos os dicionários omitem fonatório, mas Fortes & Pacheco (H. Fortes, G. Pacheco, Dic Médico, 1968) assinalaram esse vocábulo.
Na literatura médica e de fonoaudiologia, existem usos como:
mensuração do tempo máximo fonatório (Rev. Bras. Otorrinolaringol. vol. 74. n.o 2, p. 224, 2008).
Foi aplicado mensalmente, em todos os pacientes, o exame do tempo máximo fonatório (TMF) (Rev Bras Neurol, v. 45, n.o 4, p. 17, 2009).
O suporte respiratório é de grande importância no ato fonatório (Rev Bras Neurol, v. 45, n.o 4, p. 22, 2009).
As palavras existentes no léxico são: fonador, fonativo e fonológico (Vocab. Ort. da L. Port., Academia Bras de Letras, 2009). A expressão “aparelho fonatório” pode ser mudada para aparelho fonador, termo constante nos dicionários, nas gramáticas (estudo da fonética) e nos livros médicos (laringologia). Mas, em “tensão fonatória”, esse termo atenua a ambiguidade contida em tensão fonadora ou fonativa. Cognatos: fonético, que se refere à fonética, e fonêmico, aos fonemas.
A formação desse nome traz imperfeições dignas de nota. É lexia híbrida, de fono(a), som, voz, e -(t)ório, pertinência, relação; instrumento ou meio de ação (Dic. Aurélio, 2009); do grego phoné, som, voz e do latim -orius, sufixo formador de adjetivos ou substantívos (Dic. Houaiss, 2009). Os prefixos gregos passam normativamente para o português com término em o: faringo-, gastro-, phono-.
Simônides Bacelar
Médico, Brasília, DF
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23/09/2015
Independente – independentemente
Vale conhecer estes detalhes, que às vezes passam "batidos" nas publicações.
É um ponto crítico usar independente (adjetivo), como advérbio, em lugar de independentemente(D. Cegalla, Dic. de Dificuldades e Dúvidas..., 1999), embora esse uso seja frequente no Brasil. Exemplo:
Pode ser arriscado medicar o doente "independente" de conhecer o diagnóstico.
Nessa frase, é mais adequado, em situações formais, usar independentemente, nome que se liga ao verbo medicar, por sua função de advérbio de modo, ou seja, refere-se à maneira de medicar. Assim:
Pode ser arriscado medicar o doente independentemente de conhecer o diagnóstico.
Para clareza, se pode mudar a construção:
Pode ser arriscado medicar independentemente (ou: aleatoriamente, intuitivamente) de conhecer o diagnóstico do caso.
Usa-se independente em sua classe e função próprias de adjetivo. Ex.:
Foram atendidos os doentes independentes (isto é, os que não dependem) de planos assistenciais.
Em resumo, para evitar dubiedades, reitera-se aplicar independente (adjetivo) eindependentemente (advérbio de modo) em suas classes gramaticais e funções sintáticas próprias.
Simônides Bacelar
Médico, Brasília, DF
29/08/2015
NORMA CULTA
Modalidade variante da língua, geralmente usada por pessoas de bom nível socioeducacional e cultural, regularmente ensinada nos âmbitos educacionais como idioma oficial do Estado-Nação, para ser empregada nos documentos oficiais, nos trabalhos científicos, nos concursos públicos, nas solenidades oficiais e em outras circunstâncias formais, sobretudo em relatos escritos (G. Giacomozzi e cols. Dic de Gramática, 2004).
Tem estruturação disciplinada, organizada e padronizada, com registros nas gramáticas normativas e elaborada de acordo com estudos metódicos, realizados ao longo de séculos por profissionais de Letras oficialmente autorizados para esse mister. A norma culta foi e é a usada na elaboração e manutenção da língua-padrão, cujo objetivo prioritário é servir como instrumento de comunicação oficial no âmbito nacional e internacional com a representatividade de uma nação.
Consta acrescer que todas as outras modalidades ou variações da língua são tão importantes no âmbito comunicativo de um povo ou de uma comunidade quanto a língua-padrão, seja o jargão chulo, as gírias, seja o uso erudito e mesmo o padrão retórico rebuscado. Se as variações existem, é que são úteis, estão vivas e merecem consideração.
Simônides Bacelar
Brasília, DF
25/08/2015
Após – depois
Na fala geral, são usados indiscriminadamente. Mas, em regimes formais, convém adotar uma padronização.
Em rigor, após se usa para posterioridade no espaço (L A Sacconi, Dic. de dúvidas e dif..., 2005):
A secretaria fica após o centro cirúrgico.
O hospital fica após a prefeitura.
O acidente ocorreu após a curva.
Depois se usa para posteridade no tempo (L A Sacconi, Dic. de dúv..., 2005):
Tomar as cápsulas depois das refeições.
Discutiremos o caso depois.
Retornou depois da alta hospitalar.
Não é bom português o uso de após antes de formas nominais; prefere-se depois de (Sacconi, Não erre mais, 2005, p. 118):
“Examine o paciente após (depois de) lavar as mãos”.
“Deixou a sala após (depois de) operar”.
Segundo Antenor Nascentes (Dicionário de sinônimos, 1969), após se usa em sentido de posterioriedade no estado de movimento: Corri após e o alcancei; depois dá ideia de posterioriedade no tempo: Cheguei duas horas depois.
Após não se usa com preposição a, como nos exemplos: “após ao centro cirúrgico”, “após ao corredor”. É encontradiço na linguagem usual, exemplos como “após ao jogo”, “após ao filme”, “após ao término”, “após ao óbito”, “após ao nascimento”.
É preciso lembrar que após é preposição e sua junção com outra preposição, no caso a preposição a, configura redundância.
Também é útil lembrar que depois é advérbio de tempo e, assim, fica mais apropriado usá-lo como elemento que modifica um verbo: Em lugar de “Almoçaremos antes e caminharemos após”, é mais adequado dizer: Almoçaremos antes e caminharemos depois. “Após é artificial. Use-o em expressões consagradas como ano após anos, dia após dias,. No mais, dê preferência ao depois: depois do sinal, deixe o recado (D. Squarisi, Manual de redação e estilo – para mídias convergentes 2011).
Outras possibilidades de substituição:
“Após (passados) dois dias, o paciente foi operado”.
“Foi tratado após (em seguida aos) os exames”.
“A prescrição médica foi após (ulterior aos) os testes laboratoriais”.
“A avaliação feita foi após (posterior ao) o tratamento.”.
Ensina Piacentini (Língua Brasil – não tropece na língua, 2003, p. 89): “Após é preposição – liga palavras ou termos de uma oração: ano após ano, um após outro, Pedro após Paulo. Depois é advérbio – basicamente modificador do verbo: falaremos depois, vou depois. E temos ainda a locução prepositiva depois de, que rege um substantivo ou um pronome: depois da chuva, depois de mim, depois de você.
Acontece que após vem sendo usado há séculos também nas duas últimas situações: falaremos após, após a chuva, após mim... já não dá para dizer que esse emprego esteja errado, mas decerto é melhor usar depois (de) com verbos e com o particípio: vamos depois, sairei depois, depois de distribuído, depois de organizado. Recomenda-se também usar depois (nunca após) no início da oração, com o sentido de posteriormente: Disse que não ia. Depois disse que sim”.
Não se usa após com o particípio (Ledur-Sampaio, Os pecados da língua. 4.o v., 1996, p. 84). Assim, são criticáveis as frases: “O omeprazol não tem estabilidade após (depois de) aberto”, “Operaremos após (depois de) realizados os exames”.
Pode-se usar após de em sentido espacial, de tempo (Dic. Aurélio, 2009): Acordou tarde após de uma noitada de estudos.
Em que pese haver usos adequados e mais padronizados, após aparece indiscriminadamente nos relatos médicos e com frequência até um pouco abusiva. Por amor ao bom estilo e à organização da língua, convém reparar essa imperfeição redacional, já que não é necessária.
Finalizo com um bom recado do Prof. Domício Proença Filho, Univ. Federal Fluminense:
“Somos livres para falar ou escrever como quisermos, como soubermos, como pudermos. Mas é também evidente que a adequação contribui efetivamente para maior eficiência comunicativa. O uso formal, designação que sintomaticamente disputa espaço com uso ou registro culto é ainda exigência para certos e importantes momento da vida. Quem não o domina frequentemente se defronta com limitações no acesso ao mercado de trabalho, na progressão social, na vivência escolar, na comunicação com os outros. As raras e honrosas exceções se devem a articulações mentais privilegiadas e excepcionalíssimos desempenhos profissionais, assim mesmo no âmbito da expressão falada. Na manifestação escrita da comunicação cotidiana, impõe-se o regime formal. E de tal maneira, que mesmo as lembradas exceções buscam, rápida e discretamente, o assessoramento de um professor ou professora de português para evitar, no mínimo, o anônimo, irônico e cruel castigo do anedotário” (Domício Proença Filho,doutor, professor livre docente aposentado, professor emérito e titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal Fluminense, em seu livro Por Dentro das Palavras da Nossa Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Record, 2003, p. 11-12).
Simônides Bacelar
Brasília, DF
Pilares de sustentação.
Construção pleonástica, já que os pilares são usados para sustentar alguma estrutura geralmente em uma construção.
O Cândido de Figueiredo Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 1996, traz o substantivo pilar, em sentido próprio, como “simples coluna que sustenta uma construção qualquer”.
No Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa, de Silveira Bueno, 1966, registra-se pilar, substantivo masculino, como coluna de pedra ou de alvenaria que serve de sustentáculo a uma parede superior, a um soalho, lage ou simplesmente a uma parede; do latim pila(coluna) e o sufixo ar.
Basta dizer, por exemplo: O médico é um dos pilares da assistência ao paciente.
Pode-se substituir por alicerce, amparo, apoio, arrimo, base, coluna, defensor, esteio, patrono, pilastra, protetor, sustentação, sustentáculo, suporte e equivalentes.
Por extensão ou figuração existe o uso de pilar como sobrenome em homenagem à Nossa Senhora do Pilar, estrutura em que a Virgem apareceu diante do apóstolo Santiago, nome da Serra do Pilar em Portugal, como cidade e município no estado de Alagoas e de outra em São Paulo (Pilar do Sul). Também em anatomia: pilares do véu palatino.
Os pilares foram estruturas maciças, de alvenaria ou mesmo de madeira, com secção em quadrado ou circular, muito usadas no período medieval para sustentação de pontes e abóbadas de igrejas (Lello Universal, s.d.).
Não se há de indicar como erro o uso de “pilar de sustentação”, em consideração ao seu amplo uso na língua, como se vê na web. Em casos de interesses em aprimoramentos retóricos, o uso apenas de pilar pode ser considerado.
Simônides Bacelar
Brasília, DF
16/07/2015
Despautério
Palavra que exemplifica a condição de alguém ter seu nome associado a coisas mal feitas. Nos dicionários da língua portuguesa, significa absurdo, asneira, tolice, disparate, dislate. Nesse caso, referencia-se o nome de um antigo gramático flamengo, Jean Van Pauteren (1460(80?)-1520), cuja obra fora contestada por haver muitas falhas. Foi professor de latim e francês. Ensinou em Louvain (Bélgica), Bois-le-Duc (Holanda), Bergues e Comines (França).
Era conhecido como Despautère, nome afrancesado. Escreveu tratados da língua latina Contextus grammaticae artis (Paris, 1517); Syntaxis; Ars Epistolica (1519); Ars Versificatoria; Latinae Grammaticae Epitome; Orthographia entre outros. Seu trabalho fora escrito em latim, e o autor assinou-o como Despauterius (J. Ribeiro, Curiosidades Verbais, 1963, p. 174). Sua obra Commentarii Grammatici (1537), confusa e com muitos dislates, foi muito difundida na Europa nos séculos XVI-XVII (Houaiss, 2009). Faltava-lhe clareza de exposição e havia insuficiência nas explicações das regras gramaticais. Seus versos eram obscuros, confusos, e provocaram críticas rigorosas de autores como Nicolas Malebranche e Pierre Nicole. Apesar dos defeitos didáticos, seus livros tiveram numerosas edições, publicadas até o século XVIII, quando surgiram obras mais atualizadas e mais eficientes (Francisco Manuel de Melo, A Visita das Fontes: Apólogo Dialogal Terceiro, 1962, p. 323).
Commentarii Grammatici foi reeditada, traduzida e adaptada por gramáticos como Dupréau, Behourt e Pajot e serviu como base ao ensino de latim em colégios de jesuítas na França até o século XVIII. Seu epitáfio permanece em exposição na Igreja Saint-Chrysole de Comines(https://fr.wikipedia.org/wiki/Jean_Despautere).
Por motivo humanitário, recomenda-se não usar o termo em questão, sobretudo como partícipe da penalização perene de gente que não usou conscientemente de erros com má fé e propósito de prejudicar.
Simônides Bacelar
Brasília, DF
30/06/2015
Ventosaterapia
Forma não preferencial de ventosoterapia como nome técnico científico para o uso formal, já que esses nomes são tradicionalmente e copiosamente de formação erudita. Do latim ventosa, termo médico. Como termo de composição, de regra, usa-se a terminação o para nomes gregos e i para nomes latinos. No entanto, há muitos termos latinos com a primeita terminação. Deveria ser ventositerapia, nome que aparece na literatura: ...fisioterapeuta Drª G. atuando com fisioterapia,acupuntura, eletroterapia, moshaterapia e ventositerapia
Simônides Bacelar
Brasília, DF
Forma não preferencial de ventosoterapia como nome técnico científico para o uso formal, já que esses nomes são tradicionalmente e copiosamente de formação erudita. Do latim ventosa, termo médico. Como termo de composição, de regra, usa-se a terminação o para nomes gregos e i para nomes latinos. No entanto, há muitos termos latinos com a primeita terminação. Deveria ser ventositerapia, nome que aparece na literatura: ...fisioterapeuta Drª G. atuando com fisioterapia,acupuntura, eletroterapia, moshaterapia e ventositerapia
Simônides Bacelar
Brasília, DF
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