29/08/2015

NORMA CULTA

Modalidade variante da língua, geralmente usada por pessoas de bom nível socioeducacional e cultural, regularmente ensinada nos âmbitos educacionais como idioma oficial do Estado-Nação, para ser empregada nos documentos oficiais, nos trabalhos científicos, nos concursos públicos, nas solenidades oficiais e em outras circunstâncias formais, sobretudo em relatos escritos (G. Giacomozzi e cols. Dic de Gramática, 2004).

Tem estruturação disciplinada, organizada e padronizada, com registros nas gramáticas normativas e  elaborada de acordo com estudos metódicos, realizados ao longo de séculos por profissionais de Letras oficialmente autorizados para esse mister. A norma culta foi e é a usada na elaboração e manutenção da língua-padrão, cujo objetivo prioritário é servir como instrumento de comunicação oficial no âmbito nacional e internacional com a representatividade de uma nação.

Consta acrescer que todas as outras modalidades ou variações da língua são tão importantes no âmbito comunicativo de um povo ou de uma comunidade quanto a língua-padrão, seja o jargão chulo, as gírias, seja o uso erudito e mesmo o padrão retórico rebuscado. Se as variações existem, é que são úteis, estão vivas e merecem consideração.
 
Simônides Bacelar
Brasília, DF

25/08/2015

 Após – depois

Na fala geral, são usados indiscriminadamente. Mas, em regimes formais, convém adotar uma padronização.

Em rigor, após se usa para posterioridade no espaço (L A Sacconi, Dic. de dúvidas e dif..., 2005):

A secretaria fica após o centro cirúrgico.
O hospital fica após a prefeitura.
O acidente ocorreu após a curva.

Depois se usa para posteridade no tempo (L A Sacconi, Dic. de dúv..., 2005):
Tomar as cápsulas depois das refeições.
Discutiremos o caso depois.
Retornou depois da alta hospitalar.

Não é bom português o uso de após antes de formas nominais; prefere-se depois de (Sacconi, Não erre mais, 2005, p. 118):

“Examine o paciente após (depois de) lavar as mãos”.
“Deixou a sala após (depois de) operar”.

Segundo Antenor Nascentes (Dicionário de sinônimos, 1969), após se usa em sentido de posterioriedade no estado de movimento: Corri após e o alcancei; depois dá ideia de posterioriedade no tempo: Cheguei duas horas depois.
  
Após não se usa com preposição a, como nos exemplos: “após ao centro cirúrgico”, “após ao corredor”. É encontradiço na linguagem usual, exemplos como “após ao jogo”, “após ao filme”, “após ao término”, “após ao óbito”, “após ao nascimento”.

É preciso lembrar que após é preposição e sua junção com outra preposição, no caso a preposição a, configura redundância.

Também é útil lembrar que depois é advérbio de tempo e, assim, fica mais apropriado usá-lo como elemento que modifica um verbo: Em lugar de “Almoçaremos antes e caminharemos após”, é mais adequado dizer: Almoçaremos antes e caminharemos depois. “Após é artificial. Use-o em expressões consagradas como ano após anos, dia após dias,. No mais, dê preferência ao depois: depois do sinal, deixe o recado (D. Squarisi, Manual de redação e estilo – para mídias convergentes 2011).

Outras possibilidades de substituição:

        “Após (passados) dois dias, o paciente foi operado”.
        “Foi tratado após (em seguida aos) os exames”.
        “A prescrição médica foi após (ulterior aos) os testes laboratoriais”.
        “A avaliação feita foi após (posterior ao) o tratamento.”.

Ensina Piacentini (Língua Brasil – não tropece na língua, 2003, p. 89): “Após é preposição – liga palavras ou termos de uma oração: ano após ano, um após outro, Pedro após Paulo. Depois é advérbio – basicamente modificador do verbo: falaremos depois, vou depois. E temos ainda a locução prepositiva depois de, que rege um substantivo ou um pronome: depois da chuva, depois de mim, depois de você.
Acontece que após vem sendo usado há séculos também nas duas últimas situações: falaremos após, após a chuva, após mim... já não dá para dizer que esse emprego esteja errado, mas decerto é melhor usar depois (de) com verbos e com o particípio: vamos depois, sairei depois, depois de distribuído, depois de organizado. Recomenda-se também usar depois (nunca após) no início da oração, com o sentido de posteriormente: Disse que não ia. Depois disse que sim”.

Não se usa após com o particípio (Ledur-Sampaio, Os pecados da língua. 4.o v., 1996, p. 84). Assim, são criticáveis as frases: “O omeprazol não tem estabilidade após (depois de) aberto”, “Operaremos após (depois de) realizados os exames”.

Pode-se usar após de em sentido espacial, de tempo (Dic. Aurélio, 2009): Acordou tarde após de uma noitada de estudos.

Em que pese haver usos adequados e mais padronizados, após aparece indiscriminadamente nos relatos médicos e com frequência até um pouco abusiva. Por amor ao bom estilo e à organização da língua, convém reparar essa imperfeição redacional, já que não é necessária. 

Finalizo com um bom recado do Prof. Domício Proença Filho, Univ. Federal Fluminense:


           “Somos livres para falar ou escrever como quisermos, como soubermos, como pudermos. Mas é também evidente que a adequação contribui efetivamente para maior eficiência comunicativa. O uso formal, designação que sintomaticamente disputa espaço com uso ou registro culto é ainda exigência para certos e importantes momento da vida. Quem não o domina frequentemente se defronta com limitações no acesso ao mercado de trabalho, na progressão social, na vivência escolar, na comunicação com os outros. As raras e honrosas exceções se devem a articulações mentais privilegiadas e excepcionalíssimos desempenhos profissionais, assim mesmo no âmbito da expressão falada. Na manifestação escrita da comunicação cotidiana, impõe-se o regime formal. E de tal maneira, que mesmo as lembradas exceções buscam, rápida e discretamente, o assessoramento de um professor ou professora de português para evitar, no mínimo, o anônimo, irônico e cruel castigo do anedotário” (Domício Proença Filho,doutor, professor livre docente aposentado,  professor emérito e titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal Fluminense, em seu livro Por Dentro das Palavras da Nossa Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Record, 2003, p. 11-12).

Simônides Bacelar
Brasília, DF
Pilares de sustentação.

Construção pleonástica, já que os pilares são usados para sustentar alguma estrutura geralmente em uma construção.

O Cândido de Figueiredo Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 1996, traz o substantivo pilar, em sentido próprio, como “simples coluna que sustenta uma construção qualquer”.

No Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa,  de Silveira Bueno, 1966, registra-se pilar, substantivo masculino, como coluna de pedra ou de alvenaria que serve de sustentáculo  a uma parede superior, a um soalho, lage ou simplesmente a uma parede; do latim pila(coluna) e o sufixo ar.

Basta dizer, por exemplo: O médico é um dos pilares da assistência ao paciente.

Pode-se substituir por alicerce, amparo, apoio, arrimo, base, coluna, defensor, esteio, patrono, pilastra, protetor, sustentação, sustentáculo, suporte e equivalentes.

Por extensão ou figuração existe o uso de pilar como sobrenome em homenagem à Nossa Senhora do Pilar, estrutura em que a Virgem apareceu diante do apóstolo Santiago, nome da Serra do Pilar em Portugal, como cidade e município no estado de Alagoas e de outra em São Paulo (Pilar do Sul). Também em anatomia: pilares do véu palatino.

Os pilares foram estruturas maciças, de alvenaria ou mesmo de madeira, com secção em quadrado ou circular, muito usadas no período medieval para sustentação de pontes e abóbadas de igrejas (Lello Universal, s.d.).

Não se há de indicar como erro o uso de “pilar de sustentação”, em consideração ao seu amplo uso na língua,  como se vê na web. Em casos de interesses em aprimoramentos retóricos, o uso apenas de pilar pode ser considerado.
 
Simônides Bacelar
Brasília, DF