28/09/2013

idade – anos de idade. Por motivo de variação e de valer-se de outras possibilidades de que dispõe a língua portuguesa, pode-se dizeranos etários: criança com dois anos etários, recém-nascidos com dois dias etários. No sítio da Assembleia Legislativa do Amazonas, registra-se no Projeto n.o 71/2002: dispõe (o assunto) sobre a concessão de incentivos às pessoas jurídicas que possuam empregadas com mais de 35 anos etários. Também grupos etários, limites etários. Etário significa de idade, relativo à idade. Em sentido próprio, idade é tempo de vida decorrido desde o nascimento ou origem até certa data referencial, minutos, horas, meses, semanas, século, milênio e outros; por associação de ideias, período demarcado por alguma referência importante como idade do gelo, idade da pedra, idade do bronze, Idade Média; período ou divisão da vida em períodos distintos: idade juvenil, idade escolar, idade adulta, pessoa de idade, idade avançada (Houaiss, 2013). Contudo, é questionável usar idade para designar eras, épocas, períodos geológicos (Houaiss, 2013).

25/09/2013

escalpo. Como sinônimo de couro cabeludo é uso controverso ou anglicismo como tradução do inglêsscalp. Dicionários de referência da língua portuguesa, como o Aurélio e o Houaiss,  dão escalpo apenas como couro cabeludo arrancado do crânio, um troféu de guerra para certos indígenas norte-americanos. A etimologia mostra escalpo com origem incerta, oriundo do inglês scalp, couro cabeludo, conexo com schelpe, concha de origem escandinava ou do latim scalprum, instrumento cortante, descalpere, escavar, raspar (Houaiss, 2009). Também se diz escalpe ou epicrânio, que nos dicionários significa o músculo, a aponeurose e a pele que cobrem o crânio. Entanto, bons dicionários de termos médicos em inglês, em edições traduzidas para o português, trazem scalp como escalpo, couro cabeludo, como o Stedman (1996) e o Taber (2000). Em seu Dicionário de Termos Médicos (1958), Pedro Pinto comenta “escalpo, do inglês scalp, é couro cabeludo, revestimento externo da abóbada craniana”. Assim, escalpo, escalpe e couro cabeludo são expressões equivalentes, mas como termo técnico já tradicionalmente usado em medicina, couro cabeludo exerce a preferência dos autores.

Simônides
Urge-incontinência

Neologismo não averbado no léxico, para exprimir urgência em urinar associada a incontinência urinária. Também se escreve urgeincontinência e urge incontinência. Frequentemente é tradução (anglicismo) do termo inglês urge incontinence: “Urge incontinence involves a strong, sudden need to urinate immediately followed by a bladder contraction, resulting in an involuntary loss of urine.”. “Urge incontinence is most common in the elderly.”.

Nesse idioma, em medicina, urgency significa impulso irresistível e súbito para urinar (Dorland, Dic. Méd. Ilustrado, 1999). Em português, urgência não tem esse sentido exclusivo, como ocorre em inglês. Diz-se urgência urinária, expressão registrada por L. Rey (Dic. de Med. e Saúde, 2003), uma vez que, em nosso idioma, urgência significa qualidade do que é urgente, isto é, que urge, que é necessário fazer imediatamente, como está nos dicionários da língua portuguesa.Urge é termo registrado no VOLP, espécie de peixe pequeno, (como se registra no Magno Dic. Bras. da Língua Port., s.d.).

Mas existe o prefixo urg- indicativo de impelir, apressar, como se vê nos compostos urgibilidade, úrgico, urgidor, urgível (Houaiss, 2001). Do latim urgere, apertar, impelir, apressar, a forma normal como antepositivo é urgi-.

Assim, as formas urge incontinência e urgeincontinência são inadequadas de acordo com as normas gramaticais para prefixos; a primeira pela separação do antepositivo urge do vocábulo incontinência,e a segunda por sua forma de abreviação de urgência, urge, em lugar do prefixo normal urg(i)-, de origem latina.

Por conseguinte, pode-se escrever urgincontinência, como se pode verificar na literatura médica, inclusive urgincontinence em textos de língua inglesa presentes na rede mundial de computadores. É termo útil em urologia.

16/09/2013


Medicação ou medicamento?

Simônides Bacelar, Hospital Universitário da Brasília, Universidade de Brasília

Bons dicionários como o Aurélio (2009) e o Houaiss (2009) atualmente trazem esses nomes como sinônimos. Por ser de amplo uso a sinonimia tem legitimidade. Contudo, pode criar ambiguidades que, em textos científicos, constitui grave mazela, por poder levar o leitor ou o ouvinte a interpretações equívocas. Um relato médico em que medicação ora significa medicamentos ora indica o ato de medicar e mais adiante, o efeito da medicação, pode encerrar obscuridade, despadronização e confusão.

A frase “O paciente recusou a medicação intravenosa”, por exemplo, é ambígua. Não se faz claro se o paciente recusou a droga ou sua aplicação. Ficarão clarividentes os sentidos se as construções forem: O paciente recusou a medicação (ou a aplicação) intravenosa do medicamento (porque a seringa não era descartável). Ou: O paciente recusou o medicamento de aplicação intravenosa (por ter alergia a um de seus componentes).

Em rigor literal, medicação significa ato (realizar a medicação) ou efeito de medicar (estar sob medicação) e emprego de agentes terapêuticos para atender a determinada indicação (Dic. Larousse, 1992), assim como o sentido próprio de prescrição é o ato de prescrever e o de operação, o ato de operar.

Medicação significa, propriamente, terapêutica, terapia, medicamentação, como está nos dicionários de português e, em grande número deles, registram-se apenas essas acepções; inclui a aplicação de qualquer meio terapêutico (Dicionário Cândido de Figueiredo, 1996; Dic. da Língua Portuguesa, de Antenor Nascentes, 1988), como soro morno, panos quentes, raios ultravioleta, radioterapia, massagens. Assim, estão corretos os dizeres: evitar automedicação, erro de medicação, prescrever medicação a ser feita, medicação parenteral, calcular a medicação.

São medicamentos as substâncias usadas para tratar doenças (Dic. Aurélio, ob. cit.), como remédios, drogas, fármacos, agentes terapêuticos. Tais distinções são registradas em máximos dicionários de sinônimos como o de Francisco Fernandes (1997) e o de Osmar Barbosa (1996) e nos dicionários Aulete (1980), Michaelis (1998) Universal (1999) e outros.

Assim, medicação é substantivo abstrato e medicamento, substantivo concreto. Por isso, embora tenham vasto uso, o que também, como já citado, lhes dá legitimidade, são imperfeitas expressões do tipo: “comprar a medicação” “este fármaco é ótima medicação”, “tempo para correr a medicação”, “atraso na administração da medicação”, “O éter é ótima pré-medicação”, “Foram administradas 3 medicações” e similares.

Por amor à precisão e à busca da perfeição, na linguagem científica formal, é desejável mudar a construção. Em lugar de: “Paciente tomou toda a medicação”, diz-se: Paciente tomou os medicamentos. Em vez de: “Vim buscar a medicação”, usa-se: Vim buscar os medicamentos.

Por ser comum no âmbito médico, não há de ser incorreto o uso de um dos nomes pelo outro, sobretudo em linguagem coloquial, mas usar esses nomes em seus sentidos próprios evitará comentários adversos além de denotar linguagem mais cuidadosa.
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09/09/2013

Escoriação

É muito comum usar escoriação para se referir a feridas superficiais.  Nos dicionários em geral, escoriação significa ferimento, esfoladura, ação ou efeito de escoriar, causar ferida superficial. Se soubermos o significado próprio dessa palavra, vamos ver que este é um pouco estranho para se referir a feridas.

Sua origem é grega, de skoria, de skorskatos, excremento, que passou para o latim como scoria, fezes (restos) de metal, daí escoriar ter significado de limpar os metais e extrair deles a escória, cujo sentido próprio atual é resíduo silicoso obtido da fusão de certas matérias, como a hulha. Em sentido figurado, é a parte mais desprezível de algo; coisa ou indivíduo reles, desprezível, como se verifica nos dicionários. Esse sentido aponta a pele removida por arranhaduras como escória, conexo a excremento, uma condição ilógica, que parece depreciar a pele, um órgão nobre, embora seja uma analogia compreensível.

Mesmo assim, o sentido de escoriação como ferida superficial está consagrado. Se quisermos usar nomes mais aperfeiçoados em casos de redação científica formal, por exemplo, há alguns sinônimos que poderíamos considerar a depender do contexto: abrasão (ferida abrasiva) arranhão, arranhadura, arranhado, esfola, esfoladura, esfolamento, raladura, raspão.

04/09/2013

Necropsia branca poderia ser um termo técnico?

Necropsia branca é um termo usado para indicar, em medicina legal, ausência de achados que poderiam explicar a causa da morte. Exemplo: Durante uma necropsia, excepcionalmente pode ocorrer uma situação em que o indivíduo, vítima de morte súbita, não apresente registro de antecedentes patológicos, nem lesões orgânicas evidentes, além de não apresentar manifestações de agressão violenta. Esse fato registra informalmente o que se chama de "necropsia branca" (Alencar e cols. J. Bras. Patol. Med. Lab., vol.46, n.6 , p. 495, 2010).

A expressão necropsia branca tem cunho coloquial, popular. Está registrada no Dicionário de Medicina Legal, de Manif Zacharias  e cols., 1991. Seu uso é tradicional e tem legítimo valor, mas é questionável por ser imperfeito como nome científico. Em cirurgia, por exemplo, a expressão laparotomia branca passou a laparotomia não terapêutica, que é usada em relatos técnicos e científicos formais. Por comparação, talvez o nome necropsia não diagnóstica possa estar mais em conformidade com uma expressão técnica científica do que necropsia branca, já que descobrir as causas de uma morte é a principal razão de ser das necropsias, o mesmo, creio, que fazer diagnoses das condições que motivaram a morte do indivíduo cujo corpo se examina.

Necropsia propedêutica ou não propedêutica podem também ser denominações de nota. Observa-se, porém, que propedêutica indica propriamente corpo de ensinamentos introdutórios ou básicos de uma disciplina; ciência preliminar, introdução, como se vê nos dicionários. Esse significado próprio lança questionamentos de necropsia propedêutica como nome preciso para designar a conduta. 

Considera-se, também, que diagnóstico de normalidade ou de anormalidade podem ser designações adequadas. A necropsia, de fato, é um procedimento de diagnose de normalidade ou anormalidade. Assim, se pode dizer necropsia sem achados anormais ou, se houver lesões no corpo examinado, um relatório descritivo pode ser elaborado sobre as anormalidades encontradas. Embora sejam prolixas essas   expressões, a primeira é mais apropriada que necropsia branca, uso que se pode até considerar como gíria. 

As nominações necropsia normal ou necropsia anormal produzem ambiguidades, já que, em rigor, normal significa estar de acordo com as normas, no caso, normas de necropsia,  e necropsia anormal seria procedimento realizado fora das normas que regem a realização de uma necropsia.  

Curiosamente, o nome branco procede do idioma germânico antigo, blanck, (blank em alemão atual)  com o sentido de brilhante, reluzente (Houaiss, 2009), o que explica o termo arma branca, já que facas, punhais, espadas, facões e outros cutelos do tipo são metálicos e brilham.

Em suma, diante dessas várias possibilidades de denominação técnica, pode-se frequentemente evitar dizer necropsia branca em relatos científicos formais, embora seu uso possa ser justificado por ser corrente e até consagrado. 

Simônides Bacelar
Brasília, DF