26/01/2014

Ostomia, ostoma, estoma ou estomia?


Ostoma e ostomia são nomes não alinhados às regras de transmudação do grego para o português. Estomia e estoma são os indicados por essas normas.

Nas formações oriundas do grego e do latim, usa-se o e prostético (não “o”) antes de termos iniciados por s, seguido de consoante:species > espécie, stilus > estilo, spatium > espaço, stómachós > estômago, stoma > estoma. De fato, em português, as derivações destóma, boca em grego, são feitas com e (estoma), não o (ostoma), quando inicia palavra: estomalgia, estomatite, estomódio.

Em colostomia, por exemplo, há três elementos: colo+estoma ou stoma+ia. Assim podem ser também decompostos os nomes vesicostomia, ileostomia, nefrostomia. Em comparação, não se diz “fazer oscopia”, tendo em vista histeroscopia, otoscopia, colonoscopia. Diz-se, então, escopia.

Nos dicionários, não há ostomia, nem ostoma, embora possam esses termos ali aparecer um dia por serem muito usados.

Fruto da metodologia linguística, estoma é o nome regular, autônomo e existente nos dicionários: em anatomia – orifício ou poro diminuto; em cirurgia – abertura na parede abdominal por meio de colostomia, ileostomia; abertura entre duas porções do intestino (Dic. Houaiss, 2009).

Estoma e estomia não são sinônimos.

Estoma é orifício ou abertura: estoma intestinal, estoma ureteral direito, estoma distal (ou proximal) da colostomia. Nesse sentido, embora sejam raras as grafias colostoma, ileostoma e similares, é mais apropriado dizer: O colostoma está sangrando. O faringostoma está bem posicionado. O ureterostoma é estenótico. Feito sigmoidostoma duplo. Há faringostoma e ureterostoma em português; colostoma e sigmoidostoma ocorrem no inglês e em outros idiomas.

Estomia, pelo sufixo -ia, por sua vez, denota condição, afecção em que há estoma. Exemplos: O doente controla bem sua colostomia. Protocolo de esofagostomia.

Os dicionários comumente omitem estomia como nome autônomo, mas está na literatura: “O atrativo da técnica é a presença de única estomia” e “Verificou-se a ocorrência de dermatite periestomia”; “efluente líquido das estomias” (A. Lopes e cols., Braz J Urol, v. 27 (suppl. 1), 2001, p. 159); “Estomias e drenos veiculam secreções digestivas e secreções purulentas” (Margarido & Tolosa, Técnica Cirúrgica Prática, 2001, p. 155). Assim, é recomendável usar estoma e especificar: estoma ileal, estoma esofágico.

Ostomia e ostoma são, portanto, irregularidades gráficas. Termos derivados estão na literatura, como ostomizado e osteoma. Mas, do exposto, ostomizado é neologismo mal formado e inexiste nos dicionários. Estomizado seria melhor. Ostomisado é grafia incorreta de “ostomizado”. O verbo ostomisar já aparece no âmbito hospitalar. Osteoma, em lugar de estomia, é forma ruim, já que osteo indica osso.

Dessas análises, considera-se que ostomia e ostoma por existirem na literatura não sejam termos errôneos no sentido linguístico da comunicação. Mas, por sua formação vocabular mais bem estruturada, as formas estoma e estomia tornam-se preferenciais em comunicações científicas protocolares.

Simônides Bacelar
Médico, Hospital Universitário de Brasília, UnB

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