31/12/2013

Policial - agente policial

O termo técnico contido em documentos oficiais e diplomas legais é agente policial, como se vê nas páginas de busca da web e como se verifica em resolução da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo a respeito de cargos da Polícia Civil, URL: http://www.aipesp.com.br/juridico.asp?id=412, e na Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo (http://www2.policiacivil.sp.gov.br/x2016/modules/smartsection/item.php?itemid=143).

O termo agente de polícia é também expressivo como termo técnico e poderia ser usado em situações formais.

"Policial" é um adjetivo em seu sentido próprio, denotativo, mas agente também é um adjetivo em seu sentido principal, isto é, aquele ou aquilo que age, o que faz agente policial ou agente de políciatermos imperfeitos. Mas, à mingua de um nome adequado, um substantivo que substitua adequadamente "policial", nome conotativo de cunho popular, agente policial é nominação mais adequada para constar em situações cerimoniosas ou formais. 

Reconhece-se que "policial" tem mais força expressiva, por ser amplamente entendido como pessoa que trabalha na polícia geralmente armada, encarregada da manutenção da ordem e da segurança dos cidadãos, com atuação sobretudo nas ruas. Mas como nome técnico ou oficial do cargo ou da função, ou da profissão é questionável. O emprego de uma palavra fora de sua classe gramatical tem um nome: derivação imprópria [. . .] Imprópria por que foge da característica, do padrão da língua, ou seja, a palavra é empregada fora do seu padrão habitual (Gold Editora, Dicionário da Língua Portuguesa Comentado pelo Professor Pasquale, 2009, p. 15) a respeito do termo manifestação monstro, em que o último nome é usado como adjetivo.

A utilização de adjetivos como substantivos pode enfraquecer seu sentido, já que implica dependência de um substantivo que lhe completa o sentido. Adjetivo é classe de nomes que qualificam substantivos, como está nas gramáticas. O uso de adjetivos como substantivos amortece seu sentido que resulta incompleto e muitas vezes dúbio.

Sabe-se que um dos fatos mais frequentes na história da língua é a mudança de categoria dos nomes (Ribeiro, s.d., p. 94). A propensão de substantivar adjetivos para simplificação do vocabulário (lei do menor esforço) é trivial na língua desde o latim vulgar, em que se usavam aestivus (estio), por tempusaestivus; veranus (verão), por tempus veranuspersicum (pêssego) por persicum pomum (fruta persa) (R. Léllis, Português no Colégio, 1970, p. 58), de via strata ficou estrada, de meia calça, ficou meia, de terra pátria, ficou pátria (do pai). Curioso observar que o próprio nome substantivo é um adjetivo e é só essa sua classificação registrada no Voc Ort da L Portuguesa, da Acad Bras de Letras (2009).

O uso de substantivação de adjetivos é comum e não se considera como erro, pois é útil para nomear numerosos casos consagrados cujos substantivos correspondentes são de difícil entrosamento com o nome original: ácido, negativo (imagem fotográfica de sombras invertidas), soldado, ouvinte, profissional, preservativo, conservante, comprovante. Em medicina, há médico, lavado (peritoneal, gástrico, vesical), concentrado (de hemácias, de plaquetas), diário (miccional). 

No entanto, usar as lexias em suas funções sintáticas próprias é favorável à precisão dos nomes científicos. A citação do substantivo correspondente ao adjetivo sempre que possível, demonstra organização de algo completo, atitude própria da ciência. Na sequência, alguns exemplos com respectivas complementações ou substantivos adequados: a íntima dos vasos (camada); adesivo/a (papel; fita); antimicrobiano (agente; droga); às três (horas) da tarde; aspirado (material) de medula óssea; berçarista (médico); branco; preto (de cor; indivíduo); catedral, pastoral, matriz (igreja); circular (carta); clínico (médico); cortical (camada) da suprarrenal; deferente (ducto; canal); deltoide (músculo); diagnóstico (diagnose); editorial (artigo); Física; Química (Ciência); hioide (osso); humano (ser humano); indicativo (indicação); instrumental (instrumentos); italiano; francês; português e demais (idioma); locomotiva (máquina); mural (quadro); no final (no fim); no intraoperatório (período); oculista (médico oculista); oficial (agente; militar); ordenado (remuneração); policial (agente), parasita (indivíduo – qualquer espécie); patógenos (germes; agentes); plantonista (médico); plástico (material; matéria plástica); pré-natal (exame pré-natal; período pré-natal; assistência médica pré-natal); pré-operatório (período); profissional (agente); reta; curva (linha); suicida. (indivíduo; paciente); tireoide (glândula); vernáculo (português vernáculo); zoológico (jardim; parque).
Por amor à organização e ao aperfeiçoamento redacional é de boa conduta, sempre que for possível, buscar o substantivo adequado correlato ao adjetivo em uso. Em lugar de, por exemplo, “O medo é um limitador de condutas”, pode-se dizer: O medo é um processo psíquico limitador de condutas.
Por analogia, compreende-se que a adoção de abreviaturas ou termos sintéticos com uso de um adjetivo para economizar termos completos é justificável e característico da língua geral, sobretudo em textos informais e próprios em rascunhos. O uso de formas completas é indicado em situações formais como cuidado à clareza, sobretudo em documentos e comunicações científicas. 

Simônides Bacelar

Brasília, DF 

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